Radicalismo não faz bem


Vou começar o post com uma historinha engraçada que vivi hoje. Estava num evento sobre um tema polêmico do nosso país hoje em dia, a reforma do Código Florestal Brasileiro, com políticos responsáveis pela aprovação do projeto no congresso e no senado. Pois bem, havia uma programação de palestras e espaço par debates ao fim.

Estava eu sentadinha ali na terceira fileira, bem no meio, para ter visão de tudo. E duas moças sentaram-se uma de cada lado meu. Elas destoavam um pouco do perfil do público em geral, estavam de jeans meio rasgado, sapatilhas e meias coloridas, bolsas que pareciam ser feitas de material reciclado. Pensei: é a turma do “meio ambiente”. Sem problemas.

Palestra 1, polêmica, forte, ok. Percebi que as duas não aplaudiram ao final. Palestra 2, palestrante mais moderado, conciliador. Também não aplaudiram. Palestra 3, bomba atômica, era a vez da senadora Kátia Abreu fazer sua exposição, e em menos de dez minutos ela falou algo do tipo: “sou contra a criação de reservas legais, porque….” Não deu tempo dela explicar seu ponto de vista.

A menina à minha direita levantou, e aos berros começou a gritar: “Como vocês conseguem dormir de noite, sabendo que vão acabar com as florestas, como vocês aprovam o uso de agrotóxicos…” bla bla bla, começou uma gritaria de todos os lados, ela simplesmente não parou de gritar, como se gritar no meio de uma palestra fosse mudar a visão de quem estava ali. O presidente da mesa pediu para ela se sentar, pois ainda não estavam aberto os debates, mas ela não quis saber, e gritava muito, ao ponto de eu franzir a testa e abaixar a cara de “vergonha alheia” (sabem essa sensação?). Pois bem, ela simplesmente quis invadir a apresentação, que eu sinceramente queria ouvir, pois me interessa saber o que o senado está pensando, não esta ambientalista (mesmo com seus motivos), e o protesto dela ali não fazia muito sentido. Ficou pior ainda quando seguranças foram chamados para retirá-la do ambiente.  Foi desagradável. E eu ali bem no front…

Pois bem, não passou nem cinco minutos da retomada da palestra, um homem atrás de mim fez a mesmíssima coisa. Começou a protestar, gritando, falando um monte de coisa sem sentido naquele momento. Seguranças de novo, baderna – esse gritou até mesmo de fora da sala.

Pois bem, terminada a palestra – finalmente! – foi aberto o debate. E mais ambientalistas apareceram, com seus argumentos e questionamentos. Ninguém foi retirado da sala, e eles puderam expor seu ponto de vista e serem ouvidos. Quem saiu ganhando? Os que gritaram, ou os que questionaram depois com respeito e no momento adequado?

Bom, eu sou uma pessoa moderada, já fui radical em algumas coisas, mas aprendi muito com a vida que não adianta você achar que está 100% certa e que os outros tem de concordar comigo nem que eu precise gritar. Eu sou contra qualquer tipo de radicalismo, seja na religião, no patriotismo, na política, no futebol ou em qualquer coisa. Quando você está cego por alguma razão, acaba por deixa de escutar o outro lado, e aceitar que alguém pode ser diferente de você.

E não, isso não significa que eu não tenha minha opinião ou não possa debatê-la, tem horas que o sangue ferve e você quer falar o que pensa de qualquer maneira, mas não significa que se o outro quiser falar comigo e se explicar melhor, eu vou deixar de ouvir.

Para mim, porém, o radicalismo se mostra de várias formas. Pode não ser no meio de um evento como vi hoje, mas numa manifestação contínua sobre algo que se conhece pouco, sem ouvir o outro lado, sempre munido de muito ódio e revolta. Sinceramente, eu fiquei com medo daquelas ambientalistas do meu lado, me senti vulnerável ao ódio delas, não que eu em parte não pudesse concordar com seus argumentos, mas sua violência com as palavras me agrediram. E não precisa ser ao vivo para se sentir isso. Como já disse no meu último post, tenho visto muitas coisas agressivas pela internet contra egípcios, muçulmanos, que exalam esse mesmo tipo de sentimento. Me sinto triste, impotente, parece que contra esse ódio visceral, não há argumentos que bastem, e me sinto meio perdida nesse mundo… será que há espaço para moderação, aceitação da opinião dos outros, da religião do outro, sem ataques ou acessos de raiva? Não estou dizendo que sou perfeita, já tive meus radicalismos, alguns muito bem expostos neste blog, mas refleti e tento melhorar um pouco, hoje aprendi que sou cheia de defeitos demais para tentar impor o que penso para os outros e me machuco quando vejo outros fazendo isso.

*

Musta sempre fala que eu tenho que aprender a usar o botão “delete” na minha vida, tirando tudo que me faz mal da minha cabeça, sem perder tempo com quem só traz coisa ruim para minha vida. Mas quem disse que consigo? Se eu fosse tão desprendida assim, esse blog não existiria.

 

Sobre MF

Alguém que escrevo muito.

Publicado em agosto 15, 2011, em No Brasil e marcado como , , . Adicione o link aos favoritos. 6 Comentários.

  1. Marina, há espaço sim pra moderação e aceitação. Não podemos é desanimar. Nós, eu digo nós pq me considero uma pessoa moderada, então, nós fazemos parte de uma minoria que está na visão da maioria “nadando contra a corrente” mas na verdade o que parece normal aos outros pra mim parece aberração percebe? Acredito que a maioria das pessoas anda anestesiada, contaminada por algum tipo de vírus que tira a visão clara das coisas. Em qualquer livro sagrado, seja ele bíblia, alcorão, evangelho segundo o espiritismo ou qualquer outro a mensagem é sempre a mesma: AMOR, TOLERÂNCIA, RESPEITO AO PRÓXIMO. Eu acredito que as pessoas somente ouvem e reproduzem as tais palavras mas ainda não permitiram que o coração e a consciência lógica ouvissem também, como eu costumo dizer, são papagaios! Mesmo eu sendo taxada de doida varrida, de ET ou qualquer outro adjetivo carinhoso desse tipo não me importo, pq eu faço a minha parte e quando deito a cabeça no travesseiro durmo tranquila. Também me envolvo com assuntos e questões políticas e não me descem certas cenas que vejo na tv em jornais e no dia a dia, mas minha flor, essas coisas infelizmente ainda são necessárias para a tal da evolução humana. Acho que o que seu marido quis dizer é que vc pode sim, saber das coisas e até transparecer algum sentimento, mas não se deixar levar por ele a ponto disso te abalar sabe. façamos a nossa parte como pessoas boas em busca de um mundo melhor e os que são maus pagarão o preço devido.E não pára com o seu blog não, ele é muito importante!!!!
    Big bossa pra vc lindona!!! Fica com Deus, ou, Allahú ahkbar 🙂

  2. Você esta certíssima, radicalismo é falta de visão. Quanto a ver muitas coisas agressivas contra muçulmanos isso existe sim, e é lamentável, mas não é privilégio dos muçulmanos não, veja entre os cristãos, por exemplo, evangélicos e católicos nunca se entendem. Cada qual se acha o dono de “Jesus”.
    Acredito que este comportamento seja tipico do ser humano. Sempre temos a tendência a achar que somos os donos da verdade. Gostei muito de seu post, como sempre vc esta de parabéns, bjusss em vc e no Mustafa

  3. Ola , tudo bem?

    Gostei muito do seu blog , não desista de escrever ,…mesmo quando triste ou infiguinada , é importante um desabafo.

    Gosto muito da cultura egípcia e respeito muito , e gostaria de saber um pouco mais , se puder contar um pouquinho agradeço.

    Beijos fique om Deus

  4. Oiiiii…tudo bem? faz tempo q não passo aqui, sem tempo pra visitar os blogs q eu amo… mas sempre q passo mesmo não comentando me encanto com seus textos….inda bem q vc não é tão desprendida né? bora vê se da prox vez a gente se encontra né?bjo

  5. Nossa, imagino o show de horrores que deve ter sido! Deixar o outro falar e terminar de falar é uma virtude! É o mínimo de respeito ao próximo.

    Numa entrevista à Veja (revista suspeita, mas a entrevista é de boa qualidade), o economista americano, Walter Williams, falou: “Defender a liberdade de expressão diante daquilo que achamos positivo é fácil. Mas a verdadeira prova é diante daquilo que achamos repulsivo”.

    Ele defende a existência de qualquer tipo de grupo (KKK, por exemplo), desde que não parta para a agressão física ou assassinato, por exemplo. Concordei plenamente!

    Vejo o caso da Mayara Petruzo… claro que ela foi infeliz. Mas é perseguida até hoje! Tem gente que quer até bater nela quando a vê. Falou algo num momento de raiva. Quem fica crucificando é tão reacionário quanto ela! Sou filha de paraibanos… não ligo se me ofendem por isso, mas se me agredirem por conta da minha origem, aí a coisa muda de figura! As pessoas podem pensar o q quiser, é direito alienável… Agora, atentar contra a integridade física, isso e que não… Nosso corpo é o nosso bem mais precioso! Não pode, sob hipótese alguma, ser violado!

    Quanto às pessoas que querem conseguir no grito, eu desconfio, sabia? Percebi que muitas delas se fazem de vítimas, quando não são…

  6. Olá Marina!
    Imagino como deve ter sido a cena.
    Concordo plenamente que cada pessoa defenda a sua opinião, desde que faça isso com bom senso. Sem bom senso, perde-se a legitimidade da defesa, na minha opinião.
    Estamos em um mundo onde as opiniões são diversificadas e a lei é a tolerância, pois de nada adianta apegar-nos cegamente às nossas opiniões e achar que todos estão errados.
    Realmente não devemos nos fazer de vítimas perante à sociedade, não se ganha nada com isso.

    Mabrook…

    Salam!

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